Dias atrás me deparei com uma reportagem que dizia, logo no título, de dez situações em que não caberia ouvir a opinião das crianças. Dito com todas as letras no texto: a decisão final, sobre qualquer assunto, é dos pais, mesmo que ela fique irritada e com raiva. Ou seja, a reportagem ensinava os pais a não ceder aos apelos emocionais de seus filhos e a não ouvi-los, uma vez que são apenas crianças.
Certamente não é da mesma coisa que falamos aqui.. e ali, na reportagem. O nosso “ouvir” não tem nada a ver com não resistir às chantagens, para depois fazer o que a criança mandar.
Muito pelo contrário, falamos, basicamente, de respeitar o que elas [as crianças] sentem.
Assim como nós, adultos, as crianças não podem evitar sentir o que sentem. Elas podem aprender a reconhecer seus sentimentos para conseguir aprimorar, aos poucos, seu autocontrole. Mas, para isso, precisam da ajuda dos adultos: pais, professores, tios, avós, etc..
Ouvir, no sentido que desejamos aqui, significa tornar-se aliado deles, colocando-se no lugar deles cada vez que demonstrarem algum tipo de desconforto emocional ou estiverem muito irritados e com raiva.
Minimizar as situações de estresse ou desconsiderar qualquer sentimento não nos parece uma boa estratégia.
Isso quer dizer que apesar de ser bem difícil ver seu filho angustiado com alguma questão, frases do tipo: “isso não é motivo para chorar” ou “não há motivo para sofrer porque não vamos na festa”, por exemplo, podem fazer com que ele sinta que ninguém o entende e, consequentemente, fazê-lo sofrer ainda mais. Se ele sofre, há, sim, um motivo. Não são os mesmos que os seus, mas eles existem para ele. É difícil mesmo. Nem sempre falaremos a coisa certa, na hora certa. Mas esse é um exercício contínuo.
Para nos colocar no lugar deles, precisamos, antes de mais nada, reconhecer as nossas angústias. O que sentimos ao ver que nosso filho, por exemplo, quer ganhar mais um brinquedo que você não pode dar? Quer ir numa festa que vocês não podem ir ou não foram convidados? Quer encontrar um amigo que está distante?
É compreensível que você fique irritado com o nervosismo dele… E ainda ache que seu filho nunca está satisfeito com nada, que está exagerando, etc..
Mas, tudo isso pode ser só mais um desejo! Desejo de que algo que ele gostaria muito, acontecesse.
Nós sabemos muito bem que existe uma grande diferença entre desejar, querer e ter, não é mesmo?
Antes de mais nada: acalme-se! Tente evitar confrontos diretos, faça com que ele se sinta simplesmente compreendido: “nossa, filho, você gosta mesmo do seu amigo. É triste mesmo não poder encontrá-lo quando a gente quer, né?”
Muitas vezes, simplesmente acolhendo aquele sentimento, reconhecendo… Não ignorando, nem subestimando… Algo como “entendo porque está com raiva. Já me senti assim algumas vezes também…” pode funcionar muito mais do que um discurso irritado, pedindo que ele “pare” de sentir algo… Já pensou nisso? Pensem juntos: o que vocês podem fazer para melhorar a situação?
É desse “ouvir” atento que falamos. Da sensibilidade de reconhecer os sentimentos dos pequenos para que eles sintam-se verdadeiramente compreendidos.
Se assim fosse, provavelmente NÃO precisaríamos ter uma reportagem explicando aos pais que são eles que mandam na relação e, pior, que as opiniões dos seus filhos são irrelevantes, que não devem ser ouvidas na maioria das situações. Não acha?